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  • Os intelectuais e a sociedade

    12/01/2016

    Confesso que me preocupa bastante, o sentido que algumas pessoas ou a sociedade, enfim, criam ou atribuem a determinadas palavras, que se transformam em valores conceituais, de reconhecimento e respeito obrigatórios pelo Estado, pelo cidadão. Chamo a atenção para o tema da menoridade do indivíduo no nosso sistema penal. De leve, como se diz modernamente.
    Mas começo tratando de “Inclusão”, “cotas” e mais vocábulos do tipo, denotando proteção, expressões que o descarado academismo petista no poder, tem espalhado em factoides e ajuizado na doutrina jurídica e constitucional. Dando-as ver e conhecer, como padrão de verdades legais - naturalmente coercitivas e sociologicamente fundamentais e/ou complementares, explicativas do bem estar social -. exploram, o naturalmente acendrado espírito da maternidade e da paternidade, comum a todos.
    Na convivência, estamos habituados - desde a gíria à filosofia – a mitos que enriquecem os diálogos, na leitura de textos em Nelson Rodrigues e Schopenhauer, entre outros. Anoto ainda simploriamente, galera, cruzada, oráculo, super-homem, só o inimigo não trai e modismos estupefacientes do dia a dia, fundados na falsa compreensão de tais palavras, como formadoras de uma nova linguagem, pretensamente trazida pela modernização da sociedade. Ganhos, sempre ganhos está na mente dos indivíduos. E como sempre a manipulação corrompe.
    Sabemos que a popularização nacional dos conceitos, é patrocinada pela elite política dominante, que deles tira proveito, controla as universidades e também o procedimento de governantes e oposicionistas, para conquista e manutenção do poder. O objetivo é a consagração da prática sem mudança ideológica, no revezamento.
    O negro Thomas Sowell - vale esclarecer que é professor de economia da UCLA, mestre da Stanford, Amhrest e outras instituições universitárias, norte-americanas -, com livros publicados e presença marcante na mídia internacional, trata desta preocupação, assoberbante no mundo moderno, no seu recente “Os Intelectuais e a Sociedade” ( 510 págs, Realizações Editora, tradução, São Paulo, dezembro 2011). 
    Scholar de prestigio e erudição reconhecidos, ele aprofunda a discussão, sobre os mais variados aspectos que o tema assume, e induzem raciocínios e conceituações de natureza histórica e intelectual, meramente coadjuvantes do processo de dominação pela separação. Em suma a manipulação.
    Ele assevera que o culto do respeito à intelectualidade é um fenômeno universal, pesando muito na atualidade. Versando sobre política, religião, filosofia, ciências, cria conceitos e definições, empolga a retórica do país. Exemplificando com a nossa amada Paraiba, nas letras dos seus filhos, quando dizemos este trecho tirei-o de Gonzaga Rodrigues, de Zé Américo, de José Octávio, está referendada a validade das palavras na sua significação mais incidental jornalística, literária, historiográfica.
    Eles falam de ciência própria, respaldados, porém, nos titulares do conhecimento sobre o que opinam. Não são pesquisadores, nada descobriram. Compõem a “espessa penumbra” de jornalistas, professores, burocratas, que a função pública chancela pelo salário, lhes destaca as teses, nem sempre as mais compatíveis com o interesse público, ”tomando proporções consideráveis ou mesmo cruciais”. Eis o risco.
    É interessante, e mesmo indispensável conhecer o aprofundamento da exposição e discussão que o autor “na penumbra”, oferece, tirando a interpretação e conceitos dos notáveis e respeitáveis que ele chama “intelectuais ungidos” e também dos “intelectos insensatos” aludidos por Thomas Carlyle, a propósito de “Harriet Taylor amiga e posteriormente esposa de John Stuart Mill”.
    Palmilho o meu chão, navego o meu mar, certo que o sentido da história é a conquista da razão, que “explode sistemas fechados” (Hegel), quando incoerente e sem lógica dialética, eu diria porque suporta o movimento. E a história é movimento, não o fato, somente, não se esgota na data, no personagem, estes meramente referenciais.
    Uma casta de intelectuais oportunistas, reconhece a existência do chamado “direito social”, e a partir daí, passa a fragmentá-lo em seções, fenômenos que não explicam a sua origem filosófica, factual. A compreensão do conceito encontra-se no seu resultado. Uma questão, portanto, de avaliação e de comprovação.
    Nesta ordem de ideias vejamos o caso do menor de 18 anos, isento de responsabilidade na prática de atos delituosos consagrado no nosso sistema jurídico-criminal. A especiosa doutrina e legislação petista o exclue de qualificações e cominações, lhe oferece tratamento especial, meramente protecionista. Flagrado em delito a sua identidade deve ser rigorosamente preservada: seu nome não pode ser revelado, sua imagem conhecida, tampouco, declarado preso, porém arrestado, nunca recolhido à prisão, mas a internamento em clínica de tratamento para recuperação psicológica.
    Aí está, acima, descrito o procedimento atinente. A despeito de tais regalias, eles estão nas ruas, criminalmente imunes à penalidades, mandados pela Justiça no cumprimento da Lei. Até chegada a maioridade, a despeito da excelência do ambiente, promovem e participam de rebeliões, fazem reféns, provocam danos ao patrimônio público na destruição, no incêndio das instalações, durante o internamento. E retornam rotineiramente, novamente arrestados.
    Estamos diante de um resultado social, francamente incompativel com o da sociedade dos indivíduos fundada no seu bem estar, e da aplicação da lei, queiramos ou não. E tal discrepância e paradoxo não podem suportar uma teoria dos direitos humanos. De leve.


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